sexta-feira, abril 01, 2011

Análise de “A rosa do povo” por Carlos Drummond

Análise de “A rosa do povo” por Carlos Drummond


No “A Rosa do Povo", que foi escrita por Carlos Drummond de Andrade entre os anos de 1943 e 1945, há 55 poemas. No poema "A flor e a náusea", o mundo fora retratado como uma combustão de coisas que se alternavam... Quase um presságio das “Rosas de Hiroshima” cantada por Gilberto Gil, sobre a bomba atômica lançadas no Japão. Sempre transparecia em seus poemas os problemas políticos do mundo. Alguns críticos dizem que poderia ser um dos livros mais críticos à política do autor. Com muito pessimismo característico dele ver com maus olhos o tema social. Sabia da Guerra; Também era pacifista e torcia pela democracia chegar ao nosso território nacional.
O momento do mundo e as confusões egoístas e efêmeras inspiraram alguns trabalhos em busca da perdida beleza, todas essas questões, é claro, intervieram nas criações. E, nos seus poemas, Drummond confessa que a poesia catalisa a beleza. Como em no poema “Carta a Stalingrado” (trecho em 1), havia um inconformismo, uma crueldade quase sufocante no inconsciente coletivo que se espalhava pelo mundo, e uma pergunta que instigava Drummond era para “qual propósito serviria a poesia?”
Nessa obra mudanças e engajamentos políticos são nítidos, quando infere. E o pensar em Poesia, está sempre presente no livro. Mas há outra, muito forte: usemos a palavra poética; é claro que, apesar de tudo, devemos fazer poesia, pensa o poeta. Uma poesia urbana crua, modernista, ou seja, sem métricas ou antiquado. A força da "palavra poética" (apesar da dúvida sobre sua utilidade) é um dos temas mais caros ao poeta. No primeiro (e mais famoso) poema do livro, "Consideração do poema" (2) onde diz que numa interpretação o Pensamento se esvai sem amarras rompendo correntes e barreiras livre de posições política adequadas ou adquiridas. Ao longo da leitura as ideias contrárias se subjazem nos poemas, um pensamento positivista, contraria a um depreciativo e faltoso em esperança. Com tom melancólico e contemplativo Drummond vai levando esta que seria considerava da mais contemporânea (na época) e tortuosa, até! Ele trilha pó
No poema "Procura da poesia" (3), na busca da poesia em seus próprios versos da poesia (metalingüística) comparece todo o tempo neste livro. Mas há também a virtude de se refletir sobre um passado (romântico), quando o mundo era mais organizado e talvez mais feliz. De modo peculiar lança crítica, de uma perspectiva do momento, dúbia ao inconformismo da guerra onde, o lugar comum transpôs com mágoas a visão de mundo.




(1) “Stalingrado...
Depois de Madri e de Londres, ainda há grandes cidades!
O mundo não acabou, pois que entre as ruínas
Outros homens surgem, a face negra de pó e de pólvora
E o hálito selvagem da liberdade dilata seus peitos (...)
A poesia fugiu dos livros, agora está nos jornais.
Os telegramas de Moscou repetem Homero.

(2) As palavras não nascem amarradas,
Elas saltam, se beijam, se dissolvem,
No céu livre por vezes um desenho,
São puras, largas, autênticas, indevassáveis.

(3) Não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam. (...)”


Denilson Santos Silva

quarta-feira, março 30, 2011

“Análise sobre o poema Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles”

“Análise sobre o poema Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles”
Cecília Meireles escreveu na década de 1940 a obra Romanceiro da Inconfidência, a princípio mais para documentar os eventos que se passavam na cidade de Ouro Preto (MG), em plena Semana Santa, do que a poetizar as cenas da Inconfidência mineira. O Romanceiro é formado por um conjunto de romances, poemas curtos de caráter narrativo e também “voz lírica”, para serem lidos em voz alta, cantados e transmitidos por trovadores e que permaneceram na memória coletiva popular. Características dos poetas do passado ibérico. Seus autores, em regra geral, ficaram anônimos. Os romanceiros eram conhecidos na Espanha e em Portugal desde o século XV e tinham várias funções: informação, diversão, estímulo agrícola, doutrinamento político e religioso.
Cecília, com sua destreza transporta, narrando como uma vidente, o atual leitor a duzentos e vinte anos no passado, no palco da Inconfidência Mineira (1789) na Vila Rica (atual Ouro Preto) e com todos os conflitos sociais, revoltas contra a coroa, os altos impostos deflagrados, desafios dos poucos intelectuais contra a opressão e à favor da liberdade, vontade de libertar o Brasil do controle Português... Mas a autora tenta ou, não consegue fugir dos fatos históricos transformando-os em sentimentos, intimistas, líricos em forma de redondilha (verso heptassílabo = sete sílabas poéticas). Para deleite do leitor fã da poetisa.
Nesta obra Cecília surpreende, quebra as expectativas deste fato histórico, já batido e contado de maneira menos inédita e mais jornalística e didática, com uma visão poética, linguagem de aclamação ibérica misturando-se com popular modernista. Questionadora, evocativa e dualista como nos versos na ordem:
Coisas da maçonaria, do paganismo ou da Igreja? / A Santíssima Trindade, um gênio a quebrar algemas? Atrás de portas fechadas à luz de velas acesas / entre sigilo e espionagem acontece a Inconfidência / e diz o Vigário ao poeta "escreva-me aquela letra do versinho de Virgílio"

e dá-lhe o papel e a pena. E diz o poeta ao Vigário, / com dramática prudência:
"Tenha meus dedos cortados antes que tal verso escrevam" Liberdade, ainda que tarde, ouve-se em redor da mesa. (questionadora – v.57 )

Ó meio-dia confuso, ó vinte-e-um de abril sinistro, que intrigas de ouro e de sonho
houve em tua formação?
Quem condena, julga e pune?
Quem é culpado e inocente?
Na mesma cova do tempo
Cai o castigo e o perdão.
Morre a tinta das sentenças
e o sangue dos enforcados ...
( Evocativa – v.17)


De esquecimento e cegueira / Em que amores e ódios vão: ( amores x ódios - v.4);
 
Na mesma cova do tempo Cai o castigo e o perdão. Morre a tinta das sentenças...

(castigo x perdão (v.24)
Sem cair na linha jornalística porém, o misticismo cultuado pelos habitantes da cidade simbolismo e espiritualismo é / dá uma atmosfera marcante e um ar de mistério, na crença sobrenatural das razões dos acontecimentos! Uma ambientação atípica do idealizado pelos livros de história didáticos.