quarta-feira, março 30, 2011

“Análise sobre o poema Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles”

“Análise sobre o poema Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles”
Cecília Meireles escreveu na década de 1940 a obra Romanceiro da Inconfidência, a princípio mais para documentar os eventos que se passavam na cidade de Ouro Preto (MG), em plena Semana Santa, do que a poetizar as cenas da Inconfidência mineira. O Romanceiro é formado por um conjunto de romances, poemas curtos de caráter narrativo e também “voz lírica”, para serem lidos em voz alta, cantados e transmitidos por trovadores e que permaneceram na memória coletiva popular. Características dos poetas do passado ibérico. Seus autores, em regra geral, ficaram anônimos. Os romanceiros eram conhecidos na Espanha e em Portugal desde o século XV e tinham várias funções: informação, diversão, estímulo agrícola, doutrinamento político e religioso.
Cecília, com sua destreza transporta, narrando como uma vidente, o atual leitor a duzentos e vinte anos no passado, no palco da Inconfidência Mineira (1789) na Vila Rica (atual Ouro Preto) e com todos os conflitos sociais, revoltas contra a coroa, os altos impostos deflagrados, desafios dos poucos intelectuais contra a opressão e à favor da liberdade, vontade de libertar o Brasil do controle Português... Mas a autora tenta ou, não consegue fugir dos fatos históricos transformando-os em sentimentos, intimistas, líricos em forma de redondilha (verso heptassílabo = sete sílabas poéticas). Para deleite do leitor fã da poetisa.
Nesta obra Cecília surpreende, quebra as expectativas deste fato histórico, já batido e contado de maneira menos inédita e mais jornalística e didática, com uma visão poética, linguagem de aclamação ibérica misturando-se com popular modernista. Questionadora, evocativa e dualista como nos versos na ordem:
Coisas da maçonaria, do paganismo ou da Igreja? / A Santíssima Trindade, um gênio a quebrar algemas? Atrás de portas fechadas à luz de velas acesas / entre sigilo e espionagem acontece a Inconfidência / e diz o Vigário ao poeta "escreva-me aquela letra do versinho de Virgílio"

e dá-lhe o papel e a pena. E diz o poeta ao Vigário, / com dramática prudência:
"Tenha meus dedos cortados antes que tal verso escrevam" Liberdade, ainda que tarde, ouve-se em redor da mesa. (questionadora – v.57 )

Ó meio-dia confuso, ó vinte-e-um de abril sinistro, que intrigas de ouro e de sonho
houve em tua formação?
Quem condena, julga e pune?
Quem é culpado e inocente?
Na mesma cova do tempo
Cai o castigo e o perdão.
Morre a tinta das sentenças
e o sangue dos enforcados ...
( Evocativa – v.17)


De esquecimento e cegueira / Em que amores e ódios vão: ( amores x ódios - v.4);
 
Na mesma cova do tempo Cai o castigo e o perdão. Morre a tinta das sentenças...

(castigo x perdão (v.24)
Sem cair na linha jornalística porém, o misticismo cultuado pelos habitantes da cidade simbolismo e espiritualismo é / dá uma atmosfera marcante e um ar de mistério, na crença sobrenatural das razões dos acontecimentos! Uma ambientação atípica do idealizado pelos livros de história didáticos.

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