quarta-feira, março 16, 2011

“Análise do poema “Tabacaria” de Fernando Pessoa”

“Análise do poema “Tabacaria” de Fernando Pessoa”Após oitenta e três anos passados, desde o poema “Tabacaria” ser lançado, o tema Metafísico se manifesta atualmente mais até, do que abordado pelo poeta Fernando Pessoa na época, que numa breve inspiração do pessimismo relata a insatisfação e imperfeição de ser e estar vivo numa ótica efêmera, desiludida, egocêntrica e solitária.
No poema, o objeto a tabacaria é a coisa real, atemporal e tangível em relação ao seu quarto que, da varanda do outro lado da rua, observa-a buscando um diálogo em forma de monólogo para explicar a sua insatisfação (voz lírica) com a realidade da sua exausta, deprimida e solitária vida. Ele usa de metáfora para explicar o “nada” que, momentaneamente, sua vida se tornara. Ao longo do poema ele segue com uma auto negação de sua existência, cita contrários sem se enquadrar em nenhum, como: o real e o ideal, individual e coletivo. No poema, O mundo fora do seu quarto o sufoca com suas regras e repetições maçantes que, fumando convulsivamente um cigarro,ele contempla através da janela argumentando uma crítica da falta de significação que sua vida se tornara, como na passagem:
“Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser Eu.
Olho cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem crescesses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso); talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
e que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.”
A Diante então, chega à conclusão que os transeuntes e as pessoas que freqüentam a tabacaria que se satisfazem com as catarses da vida e conquistas que ele nega serem de aspirações absolutas; estas mesmas mascaradas felicidades que nos outros já o prendia a muito e, agora tenta tirar delas os verdadeiros poemas no silencio do seu quarto, são inocentes peças de um tabuleiro incapazes de irem além dos próprios livres-arbítrios. Como se em um clarão lhe desse a certeza que fora abençoado com a verdade total de todos os mistérios, lhe tomasse a mente e o fizesse gritar sem ser ouvido do alto da janela para todos na rua dizendo que "eles sonham ainda e devem acordar!" A crítica explicita às religiões, comparando-as com “confeitarias”, mostra uma ideia agnóstica do poeta na época. A menina suja comendo chocolate age como a consciência inocente dos fatos que representam uma ideia, um signo de discernimento momentâneo na primavera da vida, sem total conhecimento do mundo que ainda se abre; sendo a primeira impressão como viciante verdade, ou deliciosa apaziguadora de questionamentos, suprindo necessidades imediatas e instintos básicos.
A falta de respostas sobre o “tudo” somado à ideia egoísta do poeta de não compartilhar o pensamento sobre as coisas adquiridas até o momento, porém ainda guardá-la para si por medo também de ser rejeitado ou mal-interpretado nos trás este poema sublime e seco. O olhar do poeta sobre a depressão de seus dias ou a máxima de pensamento: “Se diante das respostas absolutas, você compartilharia o/esse mistério com seu próximo ou, absorveria tal êxtase não importando se negativo ou positivo?”- é inegável nessa obra.
O questionamento de vários tipos de musa inspiradoras ao longo do tempo e culturas distintas, as lamúrias sobre as conquistas pessoais na sociedade, cidade grande, onde o ritmo frenético das modas e modos lhe era insípidos, na tentativa de adequação aos padrões que lhe corroeu a mente, ou mesmo mencionando as bucólicas fugas ao campo, de donzelas e romances marcados, lhe era tortura na alma como uma mentira. Comparo com o que Renato Russo diz na música “Quase sem querer”:
“Quantas chances desperdicei,
Quando o que eu mais queria
Era provar pra todo o mundo
Que eu não precisava
Provar nada pra ninguém?!...
Me fiz em mil pedaços
Pra você juntar
E queria sempre achar
Explicação pro que eu sentia.
Como um anjo caído
Fiz questão de esquecer
Que mentir pra si mesmo
É sempre a pior mentira,
Mas não sou mais
Tão criança a ponto de saber tudo.
Ou o próprio Fernando na parte:
“fiz de mim o que não soube/ e o que podia fazer de mim não o fiz.../"

Porém, além das reais constatações de significado mínimo do ser em relação a sua importância no universo e a circular forma de recomeços e fins - Oximoros - que o tudo está fadado a continuar se reinventando. Admite que, como todos os seres, está preso nesse sistema que é regido por algo invisível com um poder suficiente de equilibrar o universo concreto - e o nada:

“... Sempre uma coisa da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.”
Na parte do poema que um homem adentra a tabacaria, Pessoa deixa os questionamentos e volta a si, fazendo parte novamente da realidade que tanto criticava e tentava fugir onde, teria certeza que no ponto que chegou, foi nada mais que nulo seu destino. Onde os pensamentos são mais vagos do que em seu poema e a ações concretas o bastante para prendê-lo novamente.
Denilson Santos Silva

segunda-feira, março 14, 2011

Penso, logo existo!

Penso, logo existo! (Um educador se educando)

A partir do momento que somos estimulados a reagir com o que nos cerca, somos forçados a aprender como a percepção de onde estamos é necessária para nossa sobrevivência. No período de gestação, nascimento e até o fim da vida do indivíduo a faculdade de percepção serve como ponte para o aprender.
Minhas mais antigas memórias me levam ao tempo em que minha avó (mãe solteira com três filhos) minha mãe (também mãe solteira mas, ostentando quatro filhos dos sete que pariu) e meu tio, morávamos numa humilde casa alugada de dois quartos, banheiro artesanal, fogão à lenha, camas de segunda mão (às vezes doadas até) com colchões de capim seco e nosso luxo era um liquidificador e uma televisor preto e branco que, na época da década de oitenta, eram itens de luxo nos lares C,D e z...
Minha mãe trabalhava como merendeira (cozinheira de uma escola pública) e nos finais de semana lavvaa e passava roupas à ferro de brasa por encomenda. Meu tio, então adolescente, fazia bicos e era ajudante nos sítios da vizinhança. Porém minha avó sempre estimulava seus netos a nunca faltarem aula na escola, pois por pura necessidade, desistira de forçar os três filhos (minha mãe meu tio e minha tia. Está última aos nove anos de idade partira para morar com seus tios no rio de Janeiro)a continuarem estudando.
Além de aprender com meus familiares, na escola, o conceito de questionamento e de mundo crescia continuamente, em mim. Além do sentimento de crescer, arrumar trabalho e ajudar ainda mais minha família crescia também a curiosidade/vontade de trabalhar, ser um profissional de “status” como um astronauta, cientista, herói de guerra... que todo pré/adolescente nutria misturando a realidade com jogos infantis.
Mas o que mais me fascinava nas ações extraordinárias do homem (na Medicina, tecnologias, fundamentos e ações teóricas) era que todos estes profissionais tiveram, ou têm, um Mestre, um lecionador um guia. Não era um herói que se destacava dos outros seres por ser um extraterrestre. Era sim, um ser humano,quase anônimo, que tinha o poder chamado PENSAMENTO. E, com este poder, era capaz de concretizar o abstrato. Transpor coisas imagináveis à nossa realidade e romantizar coisas materiais, até mesmo banais...
Pessoalmente, fiquei entre o curso de Letras e Educação Física (optando, afinal, por Letras) após um intervalo de estudos de uma década entre 2001 e 2010, pois por pura necessidade, optei antes a continuar trabalhando para suster com meus irmão, agora, nossas família.
Nesse ínterim , trabalhava dando reforço escolar e aulas e traduções da língua inglesa e numa ONG (na minha favela) ajudada pela UNESCO, dando aulas de reforço a jovens carentes. Ainda também como voluntário técnico, ensinando basquetebol e jogando num time amador da minha cidade.
É inerente ao ser humano a “evolução” e o “evoluir”. E somente se evolui, com seu amado trabalho num mundo democrático/capitalista, após reconhecimento de unidades federais e políticas desconhecidas do povão. Por isso, sucumbi ao sistema, sai da autonomia trabalhista, concorri a uma vaga numa Universidade e,lógico, passei um ano inteiro estudando num curso pré-vestibular noturno, estudando e reciclando minha mente aos moldes do sistema mecânico de exames vestibulares carnavalescos que nosso ministério prover.
A paixão por ser um Educador e aprender a sempre melhorar irá perdurar em mim até o fim de meus dias. Só não sei o que ocorrerá até lá. Mas prefiro evoluir sem competir. A competição desvirtua nossa primordial paixão.
Num mundo competitivo, cheio de regras, ou nos adequamos às regras ou lutamos, solitários, ignorando-as... mas todos querem evoluir. Querem seu lugar ao sol. Todos querem sobreviver.
Denilson Santos silva