quarta-feira, abril 27, 2011

duas do Mário!!

Mário de sá-carneiro / “fim” /
Quando eu morrer batam em latas,
rompam aos saltos e ao pinotes
façam estalar no ar chicotes,
chamem palhaços e acrobatas!
Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada sew recusa,
Eu quero por força ir de burro.

Álcool, 21/4/2000 by mário de sá-carneiro
Guilhotinas, pelouros e castelos
Resvalam longemente em procissão;
Volteiam-se crepúsculos amarelos,
Mordido, doentios de roxidão.
Batem asas de auréola aos meus ouvidos,
Grifam-me sons de cor e de perfumes,
Ferem-me os olhos turbilhões de gumes,
Descem-me a alma, sangram-me os sentidos.
Respiro-me no ar que ao longe vem,
Da luz que me ilumina participo;
Quero reunir-me, e todo me dissipo...
Luto, estrebucho... em vão! Silvo pra além...
Corro em volta de mim sem me encontrar...
Tudo oscila e se abate como espuma...
Um disco de oiro surge a voltear...
Fecho os meus olhos com pavor da bruma...
Que droga foi a que me inoculei?
Ópio de inferno em vez de paraíso?...
Que sortilégio a mim próprio lancei?
Como é que em dor genial em me eternizo?
Nem Ópio nem morfina. O que me ardeu,
Foi álcool mais raro e penetrante:
É só de mim que ando delirante...
Manhã tão forte que me anoiteceu.

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