“Análise do poema “Tabacaria” de Fernando Pessoa”Após oitenta e três anos passados, desde o poema “Tabacaria” ser lançado, o tema Metafísico se manifesta atualmente mais até, do que abordado pelo poeta Fernando Pessoa na época, que numa breve inspiração do pessimismo relata a insatisfação e imperfeição de ser e estar vivo numa ótica efêmera, desiludida, egocêntrica e solitária.
No poema, o objeto a tabacaria é a coisa real, atemporal e tangível em relação ao seu quarto que, da varanda do outro lado da rua, observa-a buscando um diálogo em forma de monólogo para explicar a sua insatisfação (voz lírica) com a realidade da sua exausta, deprimida e solitária vida. Ele usa de metáfora para explicar o “nada” que, momentaneamente, sua vida se tornara. Ao longo do poema ele segue com uma auto negação de sua existência, cita contrários sem se enquadrar em nenhum, como: o real e o ideal, individual e coletivo. No poema, O mundo fora do seu quarto o sufoca com suas regras e repetições maçantes que, fumando convulsivamente um cigarro,ele contempla através da janela argumentando uma crítica da falta de significação que sua vida se tornara, como na passagem:
“Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser Eu.
Olho cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem crescesses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso); talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
e que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.”
A Diante então, chega à conclusão que os transeuntes e as pessoas que freqüentam a tabacaria que se satisfazem com as catarses da vida e conquistas que ele nega serem de aspirações absolutas; estas mesmas mascaradas felicidades que nos outros já o prendia a muito e, agora tenta tirar delas os verdadeiros poemas no silencio do seu quarto, são inocentes peças de um tabuleiro incapazes de irem além dos próprios livres-arbítrios. Como se em um clarão lhe desse a certeza que fora abençoado com a verdade total de todos os mistérios, lhe tomasse a mente e o fizesse gritar sem ser ouvido do alto da janela para todos na rua dizendo que "eles sonham ainda e devem acordar!" A crítica explicita às religiões, comparando-as com “confeitarias”, mostra uma ideia agnóstica do poeta na época. A menina suja comendo chocolate age como a consciência inocente dos fatos que representam uma ideia, um signo de discernimento momentâneo na primavera da vida, sem total conhecimento do mundo que ainda se abre; sendo a primeira impressão como viciante verdade, ou deliciosa apaziguadora de questionamentos, suprindo necessidades imediatas e instintos básicos.
A falta de respostas sobre o “tudo” somado à ideia egoísta do poeta de não compartilhar o pensamento sobre as coisas adquiridas até o momento, porém ainda guardá-la para si por medo também de ser rejeitado ou mal-interpretado nos trás este poema sublime e seco. O olhar do poeta sobre a depressão de seus dias ou a máxima de pensamento: “Se diante das respostas absolutas, você compartilharia o/esse mistério com seu próximo ou, absorveria tal êxtase não importando se negativo ou positivo?”- é inegável nessa obra.
O questionamento de vários tipos de musa inspiradoras ao longo do tempo e culturas distintas, as lamúrias sobre as conquistas pessoais na sociedade, cidade grande, onde o ritmo frenético das modas e modos lhe era insípidos, na tentativa de adequação aos padrões que lhe corroeu a mente, ou mesmo mencionando as bucólicas fugas ao campo, de donzelas e romances marcados, lhe era tortura na alma como uma mentira. Comparo com o que Renato Russo diz na música “Quase sem querer”:
“Quantas chances desperdicei,
Quando o que eu mais queria
Era provar pra todo o mundo
Que eu não precisava
Provar nada pra ninguém?!...
Me fiz em mil pedaços
Pra você juntar
E queria sempre achar
Explicação pro que eu sentia.
Como um anjo caído
Fiz questão de esquecer
Que mentir pra si mesmo
É sempre a pior mentira,
Mas não sou mais
Tão criança a ponto de saber tudo.
Ou o próprio Fernando na parte:
“fiz de mim o que não soube/ e o que podia fazer de mim não o fiz.../"
Porém, além das reais constatações de significado mínimo do ser em relação a sua importância no universo e a circular forma de recomeços e fins - Oximoros - que o tudo está fadado a continuar se reinventando. Admite que, como todos os seres, está preso nesse sistema que é regido por algo invisível com um poder suficiente de equilibrar o universo concreto - e o nada:
“... Sempre uma coisa da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.”
Na parte do poema que um homem adentra a tabacaria, Pessoa deixa os questionamentos e volta a si, fazendo parte novamente da realidade que tanto criticava e tentava fugir onde, teria certeza que no ponto que chegou, foi nada mais que nulo seu destino. Onde os pensamentos são mais vagos do que em seu poema e a ações concretas o bastante para prendê-lo novamente.
Denilson Santos Silva
O maior poeta de todos os tempos!
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